Coisa de Mãe

Ioga estreita laços entre mãe e bebê

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Heliane Garcia
Heliane Garcia é professora de Ioga para gestantes

Heliane Garcia era gestante quando iniciou a prática da Ioga. Desde então, descobriu que, por meio da aprendizagem da Ioga, poderia desenvolver o autoconhecimento e o equilíbrio, adquirindo uma consciência respiratória e corporal. Formada pela Associação Nacional de Yoga Integral (ANYI-RJ), Heliane começou a se dedicar, desde 2003, ao ensinamento da Ioga, focando seu trabalho em Ioga para gestantes e Ioga para bebês, embora também ofereça aulas para outros públicos. Nesta entrevista, ela fala sobre o significado da palavra, a origem da prática e os seus benefícios tanto para as mães quanto para os bebês.
Coisa de mãe – Como surgiu a Ioga?
Heliane Garcia – A prática surgiu na Índia, mas a sua origem se perde no tempo. Não existe uma data precisa para o seu surgimento, até porque as informações sobre esse aspecto são divergentes. Alguns dizem que foi no ano 5000 a.C. Outros dizem que foi muito antes disso. O fato é que a prática é milenar. Por volta de 300 a.C, Patañjali, o codificador do Yoga, sistematizou os ensinamentos que, durante séculos, haviam sido passados oralmente, organizando-os no que chamamos de Aforismos de Patañjali. Para se desenvolver moral e espiritualmente a filosofia do Yoga, existem oito partes, o que chamamos de Ásthanga (Ásth = oito e anga = parte). São elas: yama (aquilo que não devemos fazer), nyama (o que devemos fazer), àsana (posturas), pranayama (domínio da respiração), prathyahara (abstração dos sentidos), dharana (concentração), dhyana (meditação) e samadhi (iluminação).

Coisa de mãe – Em que contexto dessa filosofia entra a Ioga para gestantes?
Heliane Garcia – A palavra Yoga vem do sânscrito, yuj, e significa “junção”, “união”. Na verdade, é um autoconhecimento e um conhecimento dos outros seres. A consciência de que eu e você somos um só ser é muito diferente… E a prática do Yoga para gestantes, especificamente, vai trabalhar isso de uma forma linda. Às vezes, a mulher está gestante, gerando um ser e não tem consciência ainda dessa plenitude, dessa bênção que é esse gerar… Normalmente, a gente fala: Eu estou gestante. Mas, é mais que isso. Foi uma escolha do cosmos, de Deus, do divino que colocou aquela sementinha na sua barriga… Você também foi uma escolha do seu bebê. Por isso que a prática do Yoga funciona muito bem para gestantes. Os depoimentos das mulheres, depois que têm os bebês, é de que auxiliou muito, elas conseguiram manter o equilíbrio na hora das contrações… As três últimas gestantes, alunas minhas, tiveram parto normal.

Coisa de mãe – Eu dei um depoimento, na postagem intitulada Ioga para bebês, na categoria Dicas, sobre a minha experiência com a Ioga para gestantes. Eu fiz e acho que João Marcelo é tranqüilo do jeito que é por causa da Ioga.
Heliane Garcia – Talvez você, inconscientemente, utilizando a respiração que é trabalhada na prática do Yoga, passe para ele essa tranqüilidade… Então, toda a preparação provocada pelo Yoga, por meio da respiração e das posturas, traz um relaxamento… Talvez você tenha uma postura com seu bebê que seja fruto daquele trabalho de respiração feito ao longo da gestação. Preciso respirar para agir. Preciso respirar para não ter atitudes inconvenientes…

Coisa de mãe – Aquilo que as pessoas dizem: “Conta até dez!”
Heliane Garcia – Exatamente. O famoso “conte até dez” é essa respiração que a gente estimula. Infelizmente, as pessoas aprendem dessa forma: “Conta até dez!”. Na prática do Yoga, você vai aprender a controlar sua respiração, que é uma coisa que, no dia-a-dia, a gente não faz. Como eu comecei Yoga como gestante, pra mim foi uma bênção ter tido essa experiência.

Coisa de mãe – É realmente uma bênção, um momento em que você se relaciona com seu bebê…
Heliane Garcia – O Yoga promove um contato com o bebê que, no corre-corre, a gente muitas vezes não tem tempo de desenvolver. Há aquele momento em que estimulamos a gestante a conversar com o bebê, expor suas dúvidas, seus medos… É um momento especial.

Coisa de mãe – Qual é a Ioga mais adequada para as gestantes?
Heliane Garcia – A base do Yoga é Hatha Yoga. O que vai diferenciar é a orientação em relação às posturas. A que eu ensino é baseada em Hatha Yoga e voltada especificamente para gestantes, com todos os cuidados que uma grávida deve ter. A minha atenção vai estar focada nisso, até porque meu primeiro contato com o Yoga foi no momento da minha própria gestação. Eu até insisto que essas aulas sejam de grupos exclusivos de gestantes porque elas passam a ter um espaço para trocar dúvidas, informações. “O bebê está mexendo mais” ou “a minha médica não passou pra mim esse exame que você fez”… Ou seja, elas têm afinidades, estão vivenciando uma situação comum.

Coisa de mãe – A partir de quantas semanas a gestante tem indicação para fazer Ioga?
Heliane Garcia – Geralmente, a gente indica a partir do terceiro mês, quer dizer, da 12ª ou 14ª semana. Na maioria das vezes, no período inicial da gestação, as mulheres estão se adaptando às mudanças hormonais, sentindo mal estar, indisposição, então, às vezes, não conseguem nem ficar paradas, respirando. Por outro lado, eu já tive experiência de começar o trabalho com gestantes de dez semanas que estavam bem. O importante é que o (a) professor (a) vá devagar, observe e respeite o ritmo de cada uma. As posturas também vão sendo introduzidas gradativamente: 1º trimestre, 2º trimestre e 3º trimestre.

Coisa de mãe – As gestantes têm medo de fazer determinadas posições?
Heliane Garcia – Normalmente, quem chega para praticar Yoga já está muito consciente e está querendo parto natural, embora a prática seja recomendada para qualquer tipo de parto. No caso da cesárea, você também precisa da respiração porque é um processo cirúrgico, você precisa de serenidade para vivenciar a situação. Na verdade, nunca chegou ninguém com medo dos exercícios, especificamente. Às vezes, elas têm medo do parto! Por exemplo, a postura de cócoras, que chamamos de Postura da Índia… Elas estão fazendo em casa, a sogra vê e diz: “Menina, não faz isso…” Elas chegam comentando, achando engraçado. Eu falo da minha experiência, para tranqüilizá-las. Eu nunca vi ninguém ter um parto antecipado por conta dessa postura… Alguns exercícios, a gente evita no início. Certos trabalhos respiratórios, eu só mostro no final porque eles serão utilizados mais na hora do parto, exatamente. Então, nós precisamos ficar atentos a esses cuidados com as gestantes.

Coisa de mãe – Você acredita que exercícios são fundamentais ao longo de uma gestação…
Heliane Garcia – Com certeza. Imagina você ficar sua gestação toda sem um exercício, sem um movimento no corpo. Se você chega à sala de parto, com toda aquela tensão de uma contração, que você pode vir a ter ou não, sem estar preparada emocional e fisicamente, fica mais difícil. Antigamente havia o tabu de que a gestante deveria ficar parada, estática… Atualmente, com a vida que a gente leva, trabalha, dirige… Não tem nenhuma contra-indicação o exercício para a mãe ou para o bebê. Pelo contrário, o bebê, dentro da barriga da mãe, com esse movimento, esse vai e volta, o movimento da respiração, o movimento de mexer na coluna vão facilitar, inclusive, alguns encaixes. De forma alguma, esses movimentos poderão vir a fazer mal.

Coisa de mãe – Quais são os benefícios imediatos para a mãe?
Heliane Garcia – Um dos principais benefícios imediatos é para a coluna. Como a mudança é grande, principalmente na região lombar, onde se recebe uma sobrecarga, a prática do Yoga vai aliviar bastante. Eu recomendo muito as posturas de alongamento. Acorda, estica o corpo, alonga o corpo. Está trabalhando? Levanta, faz um movimento com os pés, estica um pouquinho… Os benefícios estão em acalmar, desenvolver uma serenidade para vivenciar a mudança física, que é grande, a mudança emocional… As mudanças hormonais são inúmeras e a gente sabe também que muitas mulheres não querem encarar a gravidez devido à mudança física, o apego ao físico é enorme! Então, elas vão precisar se desapegar desse físico para viver esse momento, sabendo que só estão aqui porque alguém se desprendeu e as teve .

Coisa de mãe – Qual é a freqüência recomendada para a prática da Ioga?
Heliane Garcia – Duas vezes por semana. Para se fazer um trabalho adequado que exercite as articulações, estimule a flexibilidade e controle a respiração. É trabalhando esse todo que a gente vai chegar ao mantra “Entrego, Confio, Aceito e Agradeço”. Isso é que é praticar, verdadeiramente, o Yoga.

*O (a) leitor (a) deve ter percebido que há uma variação quanto à escrita da palavra Ioga: quando o Blog Coisa de mãe pergunta, a palavra está escrita no feminino, com “i”, segundo manda o dicionário da Língua Portuguesa; quando a entrevistada responde, está escrita no masculino e com “y”, como manda o sânscrito. Como a entrevistada falou, todas as vezes, “o yoga”, respeitamos e transcrevemos fielmente.

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